quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um pote de açúcar.


Um dia me disseram que minha escrita era demasiadamente triste, ela possuía um gosto amargo e textura de lágrimas. Procurei o colocar a culpa nos dias cinza, nos lápis escuros espalhados pela sala. Desenhei em minha parede a vida tal como eu acreditava. Naquele desenho havia algumas nuvens que poderiam ser algodão doce ou trovão, havia pássaros e algum lugar florido. Peguei e minha mala e abandonei. Caminhei procurando as feridas pelo meu corpo, mas elas já haviam sido cicatrizadas. Só eu não queria aceitar isso. Que o tempo muda as coisas. Renova a vida. Na pela só restava pequenas texturas que eu procurava esconder, como algum que teme se apaixonar pela primeira vez. Andava com passos calmo e  me sentia como alguém que caminha perdendo um pouco de si. Abandonando pelo caminho, pares de calçados e alguns sonhos. A hipocrisia cotidiana caminhava comigo, e ao som de Renato o silêncio me completava. Talvez isto fosse apenas o reflexo os meus anseios, do cansaço corriqueiro, dessas coisas que vivemos e não percebemos que nos matam dia após dia. Mas apesar de tudo, notei que em meu bolso ainda restavam algumas cores. E com amarelo, azul e vermelho todo mundo pode desenhar seu próprio arco-íris.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vê se tá bom de açúcar


“Não disse alguém que o homem escreve para matar a morte?”
                                                                                              Vinicius de Moraes [o mais poetinha]


Voltou, depois de vários invernos e corações quebrados. Quando não se há mais expectativa alguma. Tinha na boca gosto de outros vinhos, na pele toques de outras moças e na mão poemas de autores estrangeiros. No bolso, as palavras iam se misturando, os sentimentos perdendo-se na vida cinza. Começou a descer a ladeira com passos leves, como bailarinas que ensaiam os primeiros movimentos. Sem plateia. Sua leveza era tudo. Comentou algo sobre o ultimo paragrafo do livro que eu havia emprestado. Notou que meus olhos estavam como o de Capitu. Olhos de ressaca. Contou-me sobre as luzes da Rua Augusta, do calo Rio de Janeiro e como Porto Alegre lembrava nossa cidade de Minas. Convidou-me para sair, batucou sua caixa de cigarro barato dentro do bolso. Arriscou alguns versos de música de bar. Era sempre a mesma coisa quando nos encontrávamos, parecíamos apenas lunáticos, sonhando em escrever contos de amor. Nosso coração, sempre trocado, entre palavras e poesias roubadas. Nosso amor ficava impregnado, como o cheiro, o gosto, o toque. O palpitar do coração e o juntar das mãos. O mexer das bocas e pernas.
                Sempre nos perdíamos no tempo, no vai e vem fodido da vida. Eu sempre muito intensa, queria tua leveza. Nós sentíamos o verdadeiro amor e pedíamos uma bebida forte. Tudo ficava a nossa maneira. Nosso amor era um louco amor, de jovens, que não queriam se prender. Era foda. Meu peito se apertava, e pedia mais uma bebida. Meu mundo então se resumia nestes poucos minutos. Depois nos lancávamos em estações, em outras bocas, outros gostos. Outras camas. Mas ele sempre voltava ou eu nunca ia embora de verdade. Destinos talvez já estabelecidos, órbitas paralelas que se cruzam no final.                          
                Neste dia, eu entrei no seu carro, fotos me lembram do passado. O passado, meu caro, deveria desaparecer. O passado, é foda, é sempre heavy metal demais. Com o gosto amargo habitual. A vida é feita de ciclos, sempre fechamos, sempre abrimos. Momentos, sensações. Batuques com que o destino põe ritmo a nossa vida. Fomos para sua casa, batom vermelho na tua roupa branca. Densidade. Você havia estamos em milhares de viagens pelo mundo e por meu coração. Minha bocaO ritmo estava lá. Você levantou, disse que já estava tarde e que eu precisa ir embora. Implorei para ficar mais alguns segundos, mesmo sem cheiro, eu te amava. Mas você sabe, você sempre acha que ama alguém quando é jovem. É fodido.
Argumentou, mesmo sem precisar, que queria se soltar e tão certo quanto isto, você um dia escreveria sobre o amor que sentiu e não teve coragem que vive-lo totalmente. Um meio amor. Você diria que era apenas medroso e ela muito intensa. Decidiu então deixar o sentimento se perder em uma noite enquanto ouvia Chico.
Fui embora. Eu sou assim. É sempre, tão tudo ou nada comigo. Quando sai da sua casa, as gotas de água já começavam a cair e o céu estava sendo pintado pelas cores do arco-íris. O ritmo, daquelas longas batidas do violão foi embora com você.Caralho, ainda doí muito. Procurei em outros lugares algum amor como o seu. Hoje minha maquiagem é borrada e minha alta te espera em algum corredor. E nosso amor ficou entre os pássaros azuis que se espera encontrar quando se está bêbado demais.

A vida, meu caro, é fodida.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Gabo, o melhor [ponto]

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco."




(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)


[Era para ter um texto aqui, mas no lugar há apenar o vazio. Devo me revoltar?]

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A primeira noite e nada.

Moema, Rua Augusta, Praça da Sé. O tempo passa tão rápido, só as luzes, da cidade que não dorme, refletiam naquele instante o nosso amor. A imensidão era tudo, e nada. Éramos tão pequenos diante da vida. Do céu. Paramos em um bar, um toque ritmado do violão mostrava tentativas de imitar a voz de Chico. Você riu, me olhou. Voltamos no seu carro, e você relembrava aquela poesia velha que decorou, quando eu disse que a amava. Sorriamos. Seu cigarro era denso, sua pele sem cheiros, e o ritmo calmo. Calmo, sempre calmo. A tua leveza parecia sair dos livros que eu lia, dos chás que eu tomava. Dos licores que você preparava.  Declamávamos aquela poesia, meio cantada, meio falada. Você tirava ritmo e sons de tudo, desde a caixa de cigarros importados que levava no bolso, até do meu coração, de garota-menina, que não queria sentir-se presa. Que doce ilusão. O amor sempre é uma prisão, porém tarde descobri isso. Eu me pergunto-quantas vezes já fiz isso, Meu deus?- porque fodemos tudo. Eu sempre soube -eu senti- que tua mão não ia me ajudar. Ela sempre foi um fardo. Este amor, sempre foi um peso para nos dois. É engraçado, como temos dificuldade para analisar a real situação das coisas quando nos envolvemos emocionalmente nelas. Sempre soube que não era fácil amar, e por isso sempre preferia escrever sobre ele, em romances que sempre terminavam da mesma forma: ela sem ele, ele sem ela. Preferia romances realistas, sem perspectivas, sem toques ou cheiros de lembranças. Lembranças, por vezes são amargas.  Você me dizia que isso era medo, porque no fundo sabia que ao me envolver de verdade perderia o controle. Como odeio perder o controle sobre as coisas. De frases jogadas, abandonas pelo tempo é que faço meus textos. Guarda-os na gaveta, e quem sabe um dia, este nosso amor, não vire um livro barato, lido por homens bêbados, e lúcidos demais para o amor Se envolver com alguém só ferra tudo. Você me abraçou, e diante de um barzinho barato da Rua Augusta, você me prometeu que ia ser eterno, enquanto durasse. E mentiu. Como eu quis – você não imagina o quanto- falar todos os palavrões que eu conhecia para ti, quando você me abandonou. Quando foi embora sem avisos prévios dizendo que o amor havia acabado – será que um dia ele existiu?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Amor, ma belle, é fodido.

  “ um amor não pode pertencer a duas pessoas"




As cores do céu. O ritmo calmo do violão. A poesia espalhada no chão, interminada. Ausênte. Incensos de jasmins. Chás. Cores. Beijos. As coisas, tão bem organizadas pela sua mania boba- primeiro as cores, depois as letras- ainda continuam por aqui, junto com seu aroma citríco e doce, que tão logo não saira dos sofás, onde por pienguice bobas, assistiamos filmes, e você me criticava por chorar tão fácil.Você ria, eu amava. Ainda lembro - amor, doí tanto-  quando você pegava o violão e cantava Quero me encontrar, mas não sei onde estou Vem comigo procurar algum lugar mais calmo longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita tenho quase certeza que eu não sou daqui.Tua voz era rouca. A cidade sorria para nós, ingênuos diante do primeiro amor.Mas o amor, sempre temos que foder ele, porque é assim. Ele não é eterno, não foi feito para ser. Amor é diferente de viver. Você não era daqui.No tom agora, restou o sépia. Não é cor. Os dias, bem eles continuam a esperar algum livro teu, com uma carta, falando que vai voltar. Eu te esperarei. Sempre vou te esperar, só quero que saiba isso meu amor. O batuque, o sol, a poesia ainda continuam em mim, eu te amo.

obrigada por colorir meus dias, e que tua bagagem seja carregada de leveza. Um nova vida no Canadá, para sempre tua.

*Frase pertencente à Miguel Esteves Cardoso (O amor é fodido 1994)

domingo, 18 de setembro de 2011

Não tenho açúcar senhor

Sabe Zé, eu tinha que te escrever, tá doendo para porra todo esse amor abandonado. Descaso. Você sabe do que eu falo Zé, tá como naquele dia no bar da esquina onde a gente se encontrou, você cantava Tudo é bonito, tudo é maravilhoso, na voz daquele compositor baiano, você lembra. Mas não dá Zé, eu abro a janela, peço para ser doce , não é. Não consigo, não tenho açúcar. Fico aqui observando a paisagem, mas não  faço parte dela  Zé. Eu não sei mais o que fazer, agora já são três cigarros por dia, eu voltei a fumar, me desculpe. Só nessa semana eu perdi três quilos Eu pensei em morrer,  me assustei. Não quero mais morrer, eu quero a vida, mas como vou encontrar ela Zé? Você acha mesmo que minha alma vai continuar perdida nesse mar de almas normais? Não quero isso também Zé, sabe eu quero ser como aquele moço do escritório em que eu trabalhava, aquele Saul, lembra? Puta que pariu Zé, eu também queria ser como a moça que toca saxofone aqui perto, ela tem as mãos geladas, e parece ter amor Zé. Porra, eu falo de amor. Eu sei que o mundo está um caos, e eu fico aqui falando sobre amor com você, ele é importante, confia em mim. Love is all you need, All you need is love. Zé, não desista dessa carta, por favor, eu estou desesperado. Preciso de calma. É sobre leveza, Zé,  eu quero te falar sobre levezas . Eu queria ser leve, como as aves, mas não consigo, sempre sou pesado, carregado. Por favor, me ajude, doí muito tudo isso. Sabe, tenho me sentido muito sozinho também Zé, liguei e desliguei várias vezes a televisão e o telefone essa manhã, não tenho para quem ligar. Não tenho porque abrir as portas, ninguém quer entrar. Zé, não durmo bem há alguns dias, até meus sonos andam pesados, sinto saudades de Minas. Manda um abraço para mãe Zé, pede para que ela me desculpe pelo o abandono, e diga a ela que acho que desaprendi a viver. Zé, fico aqui escrevendo sobre a vida, e não consigo mais viver. Ando apenas observando Zé. Fale para o pai, que tenho saudades, que o sol uma hora sai, eu confio nisso. Zé, te cuida, por favor.