domingo, 3 de fevereiro de 2013

Das levezas que carrego


Estou em um quarto escuro e em poucos metros confino tudo que de mais sincero há em mim. Ouço gritos. Acredito que são os meus- meu peito está arrebentado de tanta dor, choco-me como as ondas no final da praia. Queria ter a imensidão do mar, quem sabe assim a solidão me cairia bem. Estou exausta de tanto gritar, de tanto esforço, de tantas esperanças depositadas. Tudo se desfaz em minha volta, sei que há pessoas por todo o lugar mas elas não me salvam. Ninguém me salva. Ninguém me ouve. Minha tristeza é fina e constante, como a garoa na Rua Augusta. Da Rua Augusta da cidade. Pobre, suja, podre e triste, como eu. Eu sei que é chato, mas a Augusta, a tristeza, a solidão já pertencem a mim. Não quero morrer de tanto gritar, implorando para não me afundar na próxima esquina. Não quero continuar pondo em papel tudo que não consigo explicar, não consigo entender. Queria ter um fim mais belo que de Virginia – afogada em si mesma.  Resistindo a monotonia de cada dia, tomo meu café e acredito – talvez eu apenas tente e não sinta de verdade- que o dia será doce. Mas não é. Sempre é amargo, daqueles que empurro na garganta, sem as falsas ilusões de antes. Ele desce devagar, ausente de uma dose de conhaque, ou um cigarro na mão direita. Liberto-me dos vícios, embora continue a morrer. A minha ânsia é insaciável.  Cansei de me doar – mas já cansei tantas vezes e nada fiz a respeito. Gostaria tanto de passar a receber. Nado sozinha neste mar, mas sei que apenas ando em círculos por mim mesma. Dessa maneira não há como sair daqui.  Não quero continuar afogada em minhas palavras, que pulsam enquanto saem. Parto-as como a filhos, na inútil esperança que levem consigo toda a porra. Há um samba antigo na rádio, e não tenho vontade de acompanha-lo. Tenho medo que o erro seja comigo. Talvez seja. Na Rua Augusta, enquanto continuo a caminhar, imploro por olhares companheiro, vejo-os todos perdidos. Há bares bregas, com cheiro de bebida barata e de ilusão, que resisto a não entrar, a não dançar esperando um companheiro de bebida, um poema de Bandeira, ou um amor de poucas horas. Tudo é passageiro. As cenas não se encaixam na minha cabeça, e tenho medo. Meu Deus, como eu tenho medo! Tenho medo que continuar aqui, trêmula, estática. Raquítica, mórbida, fodida. Medo de não encontrar uma mão para segurar no fim do dia. Medo de ficar sem versos. Sem coisas bonitas e sem a alma leve. Penso que aqui, no Rio, talvez eu seja feliz. Talvez um dia os santos da Bahia, decidam me abençoar – embora minha crença em algo sagrado esteja tão frágil, me perdoe. Das levezas da vida, carrego apenas um soneto de Vínicius na cabeça, uns versos de Bandeira talvez e uma música do Chico.