segunda-feira, 24 de junho de 2013

Absinto em mim

Já é quase Julho.Sempre sei disso porque é tempo de voltar ao ninho.Ao clima friozinho da minha cidade do interior.Porra, tudo passa tão rápido. Hoje me olhei no espelho, sinto que não sou a mesma.Nunca me sinto a mesma de nunca.Sucessões de máscaras, de expectativas e idealizações do meu 'eu-ser'.Porra, porra, porra.É tudo fodido demais para se entender.Peço uma dose de absinto para o moço do bar da esquina.Ele me acolhe sempre com o mesmo olhar.Sinto algo bom com ele.Não sou poeta, que desleal, mal sei fazer rimas.Coisas bonitas, metrificadas, me parecem forçadas, crime para alguém que só procura algo real. Que merda, alguem acredita nos amores de Bilac? Moço, tira suas algemas, quero conversar com alguém, assim:livre.Tenho perguntas demais, paciência de menos e uma eterna ânsia de viver.Desligue o telefone.Ninguem vai ligar.Acorde! sua porta está aberta há algum tempo e mesmo assim ninguem entra.Você é apenas maia solitário.Seja, portanto, alguém de espirito farto.Algum 'super-homem'.Que aceita a solidão.Porque, que merda, nada é tão essencial assim.Beba essa dose de absinto, temos que sentir.(Re)amar.Remar de novo neste mar que me dá medo.Veja você, este mundo, estas pessoas, tudo, é apenas idealizações. Coisas fodidas cradas por nossos sentidos frágeis.Nascemos e morremos sós, o resto, amigo, é um mar de uma ilusória companhia.Você me entende?  Não fique mudo.Beba mais um pouco do absinto, sinta a leve dormência das pernas, obseve as cenas que vão se formando.O casal do lado pensa em sacangem.Outro que exibir sua dança bailarina, e no fim tudo se resume a superficialidade.Todos querem aparentar viver.Que merda, e eu estou aqui.Mânia intensa de buscar a sinceridade. Nada é doce.A poesia só nos enganou até agora.Nesta mesa de bar, está tudo o que é real - o nada. Vamos nos embrigar para recitar Bandeira.Não quero nada além da minha libertação. Mais tarde, talvez, te deixo dançar comigo.Não sou boa com pessoas e minha maquiagem já estará borrada.Vamos, tenho sonhos demais que já foram quebrados.Hoje sou uma puta.E entendo os cadáveres de Plath. Quero me banhar num mar de ópio. Me embriagar cada vez mais com o absinto que sinto de mim.Um mar de porras de palavraa irreais, que suspiram nos meus ouvidos.Você consegue ouvir?

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Eles passarão, eu passarinho

Quintana me lembra tanta coisa boa, coisas que tento me apegar hoje.Lembro do sul, lembro do meu pai me trazendo um chimarrão todo cheio de orgulho.Afinal, a garotinha dele estava crescendo, e por mais que ele tivesse medo, ele tinha me deixado partir.Como um pássaro.Sul me lembra o frio, que também sinto falta.Hoje eu estou aqui, vendo que um espírito nômade não é a solução para todas as coisas no mundo.Aprendendo, que não importa o quanto você se defenda, o quanto tente nunca baixar a guarda, nunca confiar demais.É fodido, mas te atingem.E onde mais doí.Acho que hoje quero ficar em silêncio, completando uma sequência de dias ruins.O telefone está tocando, é mais um amigo perguntando se estou bem.Se as notícias dos últimos dias foram suportáveis. Irei repetir a frase do meu pai: "nada que um bom copo de uisque não melhore". É mentira.Nem um litro inteiro, nem um porre dos grandes, nem outras camas melhorarão.Acho que aprendi a intensificar tudo.Todos os gostos, todos os sentimentos.Acho que eu sou aquela garota tonta, exatamente igual há 5 anos. Não sei o que eu acho, só continuo a cavar abismos sobre mim mesma.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Hoje

Dizem que há tanta beleza na dor.Que a tristeza é tão  inevitavelmente bela.Fico com a definição de  Pessoa, de que "poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".Hoje eu precisei escrever, fechar um livro, colocar um ponto final.Mudar de página. Bifurcar destinos.É 4 de Junho.Tudo passou tão rápido. Hoje me lembrei de um porre que tomei há um ano.Me lembrei do amigo que me segurou. Da amiga que me deu a mão.E do cara que me negou um cigarro.Ri depois.Hoje desejei me aquietar em algum canto.Deixar meu espirito nômade. Desejei parar na vida de alguém. Não quero mais ser passageira.Hoje senti falta de Porto Alegre.De Florianópolis. De Curitiba.Da minha casa antiga.Senti falta de 2011 em que eu me pegava fazendo planos.E que eu tinha alguém no meu compasso.Senti falta de uma moça que encontrei na rua, e que me perguntou o porquê do olhar triste.Senti falta de olhar para algum lugar.Hoje lembrei do Cego.Lembrei que ando prometendo ligar para ele, e que não faço porque sei que vou chorar.Mas, Cego, que você é o meu melhor amigo.Hoje desejei que alguém. entrasse pela porta, com um CD do Chico, e ficasse do meu lado no meu silêncio.Hoje estou escrevendo a última pagina de um livro curto.Hoje, senti saudades do João, do Rapha, da Sabrina e da Etiane. Abri um café e nem terminei.Acho que hoje estou triste.Eu disse "não seja tão sentimental", e eu mesma não obedeci a ordem.Hoje tentei pensar em fórmulas, ocupar minha cabeça com algo.Não consegui.Hoje quis ser Lispector. Quis ser a moça da esquina.Quis um amor de Woolf. Hoje pensei em reformular meus atos.Hoje quis encaixar certinho no colo da minha mãe e ouvi-la cantarolando um samba no meu ouvido.Hoje quis ter 7 anos.Hoje lembrei de um garoto que conheci numa viagem. Lembro-me de como sorriu para mim.Hoje senti saudades de Viçosa.Hoje queria ficar quieta. Me dar carinho.Hoje me animei com o  festival literário.Hoje não implorarei mais carinho.Não seguirei com migalhas.Respirei, e contrarie Tom, pois é possível ser feliz sozinha.Hoje queria ouvir que estou bonita, igual uma senhora que me parou em Ponta Grossa, e me abraçou, dizendo-me que eu era bonita. Hoje queria conseguir chorar para ânsia passar de uma vez.Mas é difícil as lágrimas saírem. Elas se prendem a minha garganta.Hoje me lembrei  de um amor antigo.Espero que ele esteja bem.Hoje prometi que não me envolveria com ninguém até o fim da faculdade.Hoje quis ser a melhor em entender Gabo.Hoje refiz toda minha armadura, desviei perguntas pessoas enquanto pedia uma cerveja.Hoje me lembrei de  um poema de Bandeira que cantava.Hoje me convenci que talvez as coisas seguem um fluxo, desconhecido, mas bom.Que ser triste é necessário. Hoje  transbordei.Vou me concertar essa noite.Amanhã já estarei inteira.Mas hoje quero ser triste.Vou manter apenas o que me faz bem.Hoje percebi que sinto mais que penso.Que minha essência é sentir. Que sou complicada demais para ser entendível.Escolhi de novo ser sozinha. Hoje vou escolher um lugar certo para ir.Eu não vou ser sempre tão frágil.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Meu plano

"Da primeira vez era a cidade, da segunda o cais e a eternidade..."
                                 [Wave- Tom Jobim] 

Na verdade eu queria mesmo era ser frase bonita, no meio de tanta frase linda que andei lendo.Pego-me pensando nos anjos de Pessoa, na alma grande de Cecília. Uma coisa calma e leve, tão de leve e tão quente que não poderia assustar a ninguém.Tem pessoas que não nos assustam.Enquanto outras, é estranho, o olhar me incomoda.Queria ser uma coisa bonita dentro das lindezas do meu mundo. Este deve ter sido plano da minha vida: ser uma coisa bonita, mas bonita de verdade.Ser uma história completa. 
Já estava cansada de coisas pela metade, de abstrações nulas no final, que nos fazem inventar um meio eu..Desconfigurações me espantam.Meu plano nunca foi me apaixonar, criar esta mão gelada para segurar todas as noites.Parafrasear sensações.Quanto as sensações, sinto que me basta o café na madrugada, a  televisão no mudo, em azul. Os pingos no telhado que me transportavam a um mundo irreal. Ao mundo de Babel. Mas os caminhos todos, te digo todos, são paralelos.E se encontram no final. Uma espiral de acontecimentos pré-definidos.Meu plano era ser sozinha.Nunca fiz questão de acompanhantes na minha caminhada.É tudo heavy metal demais para entender.Traço uma sequencia lógica de acontecimentos.Estou do lado errado, concluo.Sempre estive, afinal.O barulho da cafeteira. O relógio sobre a mesa. O bater incessante do meus dedos.Uma sequencia ritma que não compreendo. Sinto que muita coisa se esvai, perco demais os segundos, com minha obsessão em sentir.Em cinco minutos não teria me apaixonado.Em cinco minutos poderia ter ouvido Los Hermanos mais um pouco.Em cinco minutos cabe um samba de Cartola.Já é junho, em cinco minutos, inventaria outro mês. Outro lugar. Não é esse tempo, não é essa história, a minha.Alias, minha sequência é ilógica, não devo a chamar de história. Em cinco minutos estaria em uma tabacaria próxima.Achei uma pessoa e a perdi.Como se perde alguém em uma rua inacessível da tabacaria?Encontro sonhos jogados no quintal. Em cinco minutos nem teria os procurados.Aprendo, as primeiras notas de quem tem muito a aprender,  de como  é essencial oferecer a liberdade às pessoas.Meu plano é aprender a deixar laços mais soltos.Meu plano é beber menos uisque. Me equilibrar. Te digo, meu plano nunca foi ser um incomodo, nunca foi reconstruir espelhos.As coisas estão em um  (ir)remediável.Não sinto nada.No fundo, meu plano sempre foi ser nula por dentro. Em cinco minutos teria pensado mais sobre isso.