quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ao moço do violão.

Já é Janeiro. Adoro quando os dias passam rápidos e parecem parar justo aí - naquele acorde da música de Chico. Naqueles olhos negros. Na leveza em que a mão contornava o braço do violão, indo e vindo com as notas daquelas músicas que tu sempre soube que amei. A voz doce, o cigarro de cravo que parecia casar com o meu. Dois jovens perdidos que fumavam cigarro de cravo. Dei risadas diante dos nossos gostos estranhos.A menina-boba, tal qual a menina com a flor de Vínicius, ria desesperadamente daquele momento. Das coincidências da vida.

Deveria ser possível congelar esses momentos que nos transportam a outro mundo. Outro universo e que me fez, pela primeira vez, querer morar no teu braço. Ter um paradeiro certo. Eu gosto de estar em companhias constantes. Solidão plena me dá certa angústia. E a tua voz, o teu toque, só me fazia lembrar de samba. De bossa-nova. Do amor meio bossa-nova do nosso passado.

Dos filmes de Glauber no teu colo. Gosto do seu violão, apesar do nylon não ser minha corda predileta. Gosto das suas críticas sobre o Cinema-novo e de como você sabe o quanto eu o amo - gosto de suas frases soltas na parede do meu quarto. Das críticas sobre a tropicália e  do fato de me completar até nos gostos.  Amei o teu desenho de Terra em transe e da sua paciência em assistir filmes em preto e branco, sem dormir nem por um segundo. Somos o Padre e a Moça. A tua delicadeza em coisas pequeninas me encanta.

Gosto de estar aí, em um quase-total-amor  com cara do violão. O cara mais doce com quem dei a sorte de cruzar no último mês. O garoto-menino de sorriso fácil tão oposto a mim - todo completo, todo feliz, todo otimista e leve. Me deixa morar nesse azul, me deixa encontrar minha paz. Sua volta me fez ficar assim: escrevendo textos limpos, bonitos e doces, sem meio-amores.

Fiquei aqui, querendo ser sua música. Querendo ser levada por aí, junto com o violão, junto com você. E parar, talvez, naquela praia do sul que amamos. Os desafinados também tem coração. Não estou nem me importando com esse sentimentalismo em excesso que está brotando. Vamos, vem comigo, vamos nos perder em todas as esquinas, cantando Chico. João Gilberto. Citando Glauber. Sonhando, com um novo mundo. Cheio de boas-novas. Com a destruição do sistema.

Dois jovens. Loucos. Rebeldes. Gritos. Telegráfos. Pinturas cubistas. Você completa todos os meus pequeninos espaços.
às vezes, acho o amor importante.