domingo, 22 de setembro de 2013

Desaba(r)amor.

Pequena pausa. Tenho meu próprio manifesto: Quero transformar tudo em poesia.
Mas poesia, sem versos e rimas, é capaz de existir?
(...)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Matheus.

Matheus nasceu quatro anos depois de mim. Mãe diz que quando Matheus nasceu ele não chorou e todos pensaram que ele estava morto. Matheus, quando pequeno, tinha cabelo todo enrolado. Rasparam ele, e nunca mais enrolou. Matheus é chato como só ele. Adora me encher a todos os momentos. Matheus já caiu da rede e perdeu dois dentes. Matheus era azarado pra caramba, cortou a cabeça com martelo. Matheus é bem mais simpático que eu. Todos adoram o Matheus. Ele é divertido, conta piadas extremamente bem e tem uma alma leve. Matheus tem péssimo gosto musical e adora dizer que samba raiz e Chico que são ruins. Matheus é vida boa, não gosta muito de estudar e nem trabalhar. Diz que quer aprender a surfar um dia. Matheus é moreno, até hoje brincamos com isso na família. Minha avó diz que ele puxou a biza. Matheus é a cara do meu pai. Sempre que chega nos lugares, os outros dizem que sentem um arrepio. Matheus morre de ciúmes da minha intimidade com o pai e eu morro de ciúmes das brincadeiras dele com minha mãe. Matheus, há anos, colocou na saudação do meu celular "Gabi é a mais feia do mundo". Até hoje não mudei. Matheus pintou minha escrivaninha com corretivo. Queria bater nele. Matheus desde sempre pega as coisas no ar. Não dá para esconder absolutamente nada dele. Matheus acertou 15 no simulado. Disse para todos que havia acertado 20. Matheus confia muito em mim. Consigo ver isso nos olhos dele. Matheus diz que eu sou inteligente. Matheus vai cursar História, sei disso. Matheus gosta de Marighella, espero que se assuma comunista daqui alguns anos. Matheus adorava dormir na minha cama quando era pequeno. Ele sempre roubava todo meu cobertor. Quando chego em casa, Matheus vem logo me provocar. Mãe diz que ele fica todo murcho quando não estou. Matheus tem energia para dar e vender. Uma ânsia de viver que me dá inveja. Amo Matheus de um jeito que ninguém pode imaginar. Apesar de irritante,  poderia costurar ele junto comigo. Matheus um diz me disse que não importa mais ninguém, o mundo bem que poderia ser só eu e ele. Matheus chora com mais facilidade que eu. Lembro do enterro que ele conseguiu chorar e eu não. Matheus é mais emotivo. Ele é pura emoção e sentimentalismo. Matheus deveria estar na aula de violão, mas descobriram que ele matava aula para ficar jogando bola. Matheus adora jogar bola e é um grande jogador. Chamam ele de Garrincha. Acho engraçado. Matheus é amigo de todo o bairro,  a casa dos meus pais vivem cheio de amigos dele. Quando fico brava com Matheus e digo que nunca mais falarei com ele, ele começa a me fazer cócegas até eu rir. Matheus sempre me faz sorrir. Matheus ama praia, ama sol. Matheus, mesmo mais novo, age como se fosse meu pai. Me liga sempre perguntando se estou comendo. Matheus sabe cozinhar bem. Chega a ser melhor que eu em muitos pratos. Matheus tem juízo, nos orgulha com isso. Matheus é um ciumento nato, já brigou com amigos por minha causa. Matheus deve ler isso algum dia. Sei que Matheus vai chorar quando ler. Matheus, você é meu Éden.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fim

Não sei se falta muito ou pouco para terminar esse ano, minha percepção é falha em tantas coisas. Eu decreto o fim, em mim. Já é férias. Foram nove meses. Pintei o cabelo 10 vezes, e ainda não chegou no tom de preto que procuro. Ou no tom de azul. Talvez eu mude para o vermelho. Foi embora uma promessa de amor eterno, que decretou sua despedida junto com os ventos do inverno. Algumas viagens para o Sul - Voltei a Porto Alegre, a Ponta Grossa, a Curitiba. Espero ainda ir a Floripa. Só aguardo o Sol voltar com toda a força. Rio de Janeiro, continua lindo e aconchegante para mim. Meu pai ainda fica bobo com toda aquela beleza. No triângulo mineiro, eu me engordei em Uberaba e Uberlândia. Estive aflita lá também. Foi um pneu furado no meio da madrugada em estrada desconhecida. Preocupei amigos, talvez juntei um casal. Duas crianças estão para chegar aos meus mimos. O da Thayna nasce em Novembro, o da Dany em Outubro. Pensei em ter filhos durante esse ano. Talvez eu precise começar a fazer planos. Foi um aniversário longe da família. Recebi um telefonema do Cego que me fez chorar muito. Ah, lembrei! Eles também me trouxeram um bolo, assim que voltei para casa. Um perfume caro. Ao todo, três poemas e um disco do Chico. Sonharam comigo, esse ano. Pelo menos me disseram que sonharam. Perdi cinco quilos. Ouvi que estava horrível. Ganhei três. Há cinco meses estou sem calmantes e incrivelmente tenho dormido bem. Até agora nenhum porre grande. Sinto-me leve com isso. De uma caixinha, hoje fumo dois cigarros por dia. Meu pai enrolou inúmeros cigarros para me enviar. Brigas incontáveis com o irmão, e a descoberta de que ele é meu Éden. Quis uma menina para chamar de Maya. Quis me chamar Maya. Uns vinte livros, e muitos querem ser terminados e me esperam sobre minha escrivaninha. Tentei respeitar horários, equilibrar a alimentação e os sentimentos, esse ano, mas nada funcionou. Fui mais abstrata que o normal - talvez, assim, fui também mais verdadeira. Minha carta de moto está para chegar. Meu pai ainda fica com muito medo ao andar de carro comigo. Algumas marchas erradas e quase um câmbio foi embora. Me sinto muito feliz ao lado do meu pai - Hoje vejo que tenho muito mais dele em mim do que pensava há algum tempo. Três músicos entraram para minha lista de mais ouvidos, dentre eles Tim Maia, que me lembra um amor bem antigo. Dois shows do Tibério, e continuo muito apaixonada por ele. Gosto de pessoas que cantam com os pés no chão. Minha prima apresentou a namorada para família - senti muito orgulho dela.  Ainda quero ler Gabo com alguém. Paraty e o festival literário. Alguns amigos de bem longe entraram no meu barco. Muitos já pularam fora. Alguns licores que viajaram e tentaram levar com eles minhas boas energias. Mais Yoga, esse ano. Mais incenso. Mais calma. Estou, aos poucos, me equilibrando. Alguns conhecidos publicaram livros ótimos, e torci para cada um deles. Quis me mudar para Bahia, para Recife e ficar no Rio. Duvidas sobre o curso ( e o da minha vida, também) : Incontáveis. Emprego novo, emprego velho. Gabriela nova, Gabriela velha. Quis muito ser a Gabriela de Amado. 13 poemas novos na ponta da língua. Sei declama-los de olhos fechados. Algumas aulas. Cordas novas para minha guitarra velha. Amplificador estragado. Flavio acabou com a banda.  Promessas de lentes novas, ainda não cumpridas. Esperando um Sarau. Esse ano, me apaixonei ainda mais por poemas cantados. Musiquei alguns de Cecília. Plath e um mar de solidão - Estudei sobre a temática do suicídio em alguns poetas. Ryan  se machucou duas vezes. Renan disse que sou uma ótima prima. Que sou boazinha. Marcos arrumou uma namorada nova - Gostei dela. Não espero nada dos próximos meses. Deixo-me partir, agora.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cigarros e neuroses

"Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoas"
[Gota D'agua - Chico Buarque]


Pego-me a pensar nos meus planos, nos meus desejos. Algo que já se tornou recorrente nas minhas madrugadas regadas a chás de amora. E licores de menta. Na realidade nunca pedi muito, só queria mesmo é ser uma frase bonita. Ser uma história completa sem muitos erros. Ser aquele texto limpo, você me entende?  Queria mesmo era sentar do lado de alguém e poder cantarolar todos os poemas que tenho decor do Bandeira. Entre sorrisos dizer - Aqui não sou feliz. Mas quem sabe um dia eu me torne. Me torne um ser leve e saia por aí, com meu violão debaixo dos braços.

Queria não ter te beijado antes de perguntar sua cor preferida e se gostava do Chico. No meu plano você não preencheria todas as lacunas - as muitas lacunas- que tenho. Meu plano não era ter deixado você conhecer minhas manhas todas e nem te confessar que sempre esperei por alguém que trouxesse na ponta da língua Poética. Queria mesmo, é ter te dado mais espaço. Queria mesmo, ter te deixado solto para que você pudesse ver com teus próprios olhos como é caminhar comigo. Como é difícil caminhar por coisas tão sensíveis como os meus sentimentos.


Não queria ter te deixado pegar minha mãe naquele dia no parque. Não queria ter te deixado dar retalhos de poeminhas. Você não me entende - comigo tão pouco se transforma em tão muito. Você tem que saber que eu ainda sou a menina de Vinicius. Mas agora, queria tanto que ficasse aqui pertinho. Mas, te confesso, não queria ter todos esses espaços que te encaixam tão perfeitamente junto comigo. Não queria parar no meio das ruas, e te esperar olhando baixo e sorrindo. Você tem que saber que me assusto muito fácil, amor.

Eu queria mesmo, é que você percebesse o quanto de sonho que carrego. Ainda quero os almoços em domingo, com uma família enorme e trezentos cachorros. Ainda quero teu corpo junto com meu e não precisa nem ser em um dia de domingo. Tua voz poderia acompanhar meu violão velho que está jogado no meu quarto, quando você quisesse. Basta apenas você querer, vê o quão pouco falta?. Quero-te desarrumando todos os meus livros, que estão em uma perpetua desorganização. Vamos, me dê a mão. Não me deixe sumir novamente.

Me desculpe, amor, não sei amar assim pela a metade. Como é que se diz? "Amor-livre" não sei praticar. Também, não vou mudar algo, assim, tão meu. Pequena-menina-com-mundo-de-sonhos. Meu plano, era de que você me quisesse mesmo assim. Mesmo descobrindo que ainda choro pra caramba em Crime e Castigo. Mesmo sabendo que assisto todos os sábados aos filmes de Glauber.

Meu plano era que esse texto fosse bonito, que fizesse muito sentido nosso amor barato. Queria é mesmo, que você estivesse aqui. Juntinho. Para bagunçar meu cabelo enquanto critica Neruda. Enquanto diz que me entende, que sente como eu o amor por essas histórias. Que eu sou sua Dora. A Dora, que um dia foi de Pedro Bala, mas que hoje é tua. A Dora-mãe, a Dora-noiva.

Quem sabe um dia os santos da Bahia nos abençoe. Que um dia ainda, possamos ficar juntos no Pelourinho lendo Amado.