sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A primeira noite e nada.

Moema, Rua Augusta, Praça da Sé. O tempo passa tão rápido, só as luzes, da cidade que não dorme, refletiam naquele instante o nosso amor. A imensidão era tudo, e nada. Éramos tão pequenos diante da vida. Do céu. Paramos em um bar, um toque ritmado do violão mostrava tentativas de imitar a voz de Chico. Você riu, me olhou. Voltamos no seu carro, e você relembrava aquela poesia velha que decorou, quando eu disse que a amava. Sorriamos. Seu cigarro era denso, sua pele sem cheiros, e o ritmo calmo. Calmo, sempre calmo. A tua leveza parecia sair dos livros que eu lia, dos chás que eu tomava. Dos licores que você preparava.  Declamávamos aquela poesia, meio cantada, meio falada. Você tirava ritmo e sons de tudo, desde a caixa de cigarros importados que levava no bolso, até do meu coração, de garota-menina, que não queria sentir-se presa. Que doce ilusão. O amor sempre é uma prisão, porém tarde descobri isso. Eu me pergunto-quantas vezes já fiz isso, Meu deus?- porque fodemos tudo. Eu sempre soube -eu senti- que tua mão não ia me ajudar. Ela sempre foi um fardo. Este amor, sempre foi um peso para nos dois. É engraçado, como temos dificuldade para analisar a real situação das coisas quando nos envolvemos emocionalmente nelas. Sempre soube que não era fácil amar, e por isso sempre preferia escrever sobre ele, em romances que sempre terminavam da mesma forma: ela sem ele, ele sem ela. Preferia romances realistas, sem perspectivas, sem toques ou cheiros de lembranças. Lembranças, por vezes são amargas.  Você me dizia que isso era medo, porque no fundo sabia que ao me envolver de verdade perderia o controle. Como odeio perder o controle sobre as coisas. De frases jogadas, abandonas pelo tempo é que faço meus textos. Guarda-os na gaveta, e quem sabe um dia, este nosso amor, não vire um livro barato, lido por homens bêbados, e lúcidos demais para o amor Se envolver com alguém só ferra tudo. Você me abraçou, e diante de um barzinho barato da Rua Augusta, você me prometeu que ia ser eterno, enquanto durasse. E mentiu. Como eu quis – você não imagina o quanto- falar todos os palavrões que eu conhecia para ti, quando você me abandonou. Quando foi embora sem avisos prévios dizendo que o amor havia acabado – será que um dia ele existiu?