sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vê se tá bom de açúcar


“Não disse alguém que o homem escreve para matar a morte?”
                                                                                              Vinicius de Moraes [o mais poetinha]


Voltou, depois de vários invernos e corações quebrados. Quando não se há mais expectativa alguma. Tinha na boca gosto de outros vinhos, na pele toques de outras moças e na mão poemas de autores estrangeiros. No bolso, as palavras iam se misturando, os sentimentos perdendo-se na vida cinza. Começou a descer a ladeira com passos leves, como bailarinas que ensaiam os primeiros movimentos. Sem plateia. Sua leveza era tudo. Comentou algo sobre o ultimo paragrafo do livro que eu havia emprestado. Notou que meus olhos estavam como o de Capitu. Olhos de ressaca. Contou-me sobre as luzes da Rua Augusta, do calo Rio de Janeiro e como Porto Alegre lembrava nossa cidade de Minas. Convidou-me para sair, batucou sua caixa de cigarro barato dentro do bolso. Arriscou alguns versos de música de bar. Era sempre a mesma coisa quando nos encontrávamos, parecíamos apenas lunáticos, sonhando em escrever contos de amor. Nosso coração, sempre trocado, entre palavras e poesias roubadas. Nosso amor ficava impregnado, como o cheiro, o gosto, o toque. O palpitar do coração e o juntar das mãos. O mexer das bocas e pernas.
                Sempre nos perdíamos no tempo, no vai e vem fodido da vida. Eu sempre muito intensa, queria tua leveza. Nós sentíamos o verdadeiro amor e pedíamos uma bebida forte. Tudo ficava a nossa maneira. Nosso amor era um louco amor, de jovens, que não queriam se prender. Era foda. Meu peito se apertava, e pedia mais uma bebida. Meu mundo então se resumia nestes poucos minutos. Depois nos lancávamos em estações, em outras bocas, outros gostos. Outras camas. Mas ele sempre voltava ou eu nunca ia embora de verdade. Destinos talvez já estabelecidos, órbitas paralelas que se cruzam no final.                          
                Neste dia, eu entrei no seu carro, fotos me lembram do passado. O passado, meu caro, deveria desaparecer. O passado, é foda, é sempre heavy metal demais. Com o gosto amargo habitual. A vida é feita de ciclos, sempre fechamos, sempre abrimos. Momentos, sensações. Batuques com que o destino põe ritmo a nossa vida. Fomos para sua casa, batom vermelho na tua roupa branca. Densidade. Você havia estamos em milhares de viagens pelo mundo e por meu coração. Minha bocaO ritmo estava lá. Você levantou, disse que já estava tarde e que eu precisa ir embora. Implorei para ficar mais alguns segundos, mesmo sem cheiro, eu te amava. Mas você sabe, você sempre acha que ama alguém quando é jovem. É fodido.
Argumentou, mesmo sem precisar, que queria se soltar e tão certo quanto isto, você um dia escreveria sobre o amor que sentiu e não teve coragem que vive-lo totalmente. Um meio amor. Você diria que era apenas medroso e ela muito intensa. Decidiu então deixar o sentimento se perder em uma noite enquanto ouvia Chico.
Fui embora. Eu sou assim. É sempre, tão tudo ou nada comigo. Quando sai da sua casa, as gotas de água já começavam a cair e o céu estava sendo pintado pelas cores do arco-íris. O ritmo, daquelas longas batidas do violão foi embora com você.Caralho, ainda doí muito. Procurei em outros lugares algum amor como o seu. Hoje minha maquiagem é borrada e minha alta te espera em algum corredor. E nosso amor ficou entre os pássaros azuis que se espera encontrar quando se está bêbado demais.

A vida, meu caro, é fodida.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Gabo, o melhor [ponto]

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco."




(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)


[Era para ter um texto aqui, mas no lugar há apenar o vazio. Devo me revoltar?]