terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nós sabemos

Meu jeito é brigando. Gritando e verbalizando tudo que sinto ou julgo sentir. Mas o filtro branco me lembra você. Realismo fantástico me leva até o teu caminho - desejando que eles se cruzem novamente em alguma biblioteca de Babel. Mundo tão irreal quanto o de nossos planos. Ou nas linhas do teu corpo, que julgando conhecer, desenhei a Rua Augusta. Cinza e podre, tal como nós. Procurando lirismo real, a essência de nós. Destinos paralelos que desafiaram o fluxo caminharam junto por algum tempo, deram as mãos e se despediram dois passos depois. Samba batucando na caixa de cigarro e nos corações trocados. Desejarei eu que eles caminhem novamente? Não - deixo-te partir de mim. Fincando apenas a tua alma e teu jeito não-pacífico. Voe, meu querido.Deixe Cartola pra depois. Não precisa me devolver nada. Saí como a fumaça dessa minha última metamorfose. O que há além do começo? Não teria o começo, um outro começo, que também possuía um começo? Onde termina ou começa nossa história, meu amor? Não há nada - tudo é contínuo e mutável. A ausência absoluta de algo concreto.  Qual foi tua função na minha história?  Não te quero em linhas mal feitas e nem em cheiros familiares. Quero-me brigando. Me entenda, quero apenas pensar -e sentir- sobre essas coisas. Vamos divagando assim sobre a vida.  Você me ensinou, meu amor, a me lançar nesse buraco negro. Deus está morto - como nós estamos.Vácuo existencial em que posso me encontrar de verdade - o meu eu é o que além do que absorvo diariamente em cólera? A fumaça desenha instintos sacanas no ar, me levando ao lugar-comum do teu calor.  Em que desenhávamos em paredes alheias nossa poesia barata.Fomos ídolos dos falsos. Julgávamos muito e fomos, no entanto, nada. Meus versos ficaram sem métrica depois de você. Mas, ao menos, encontrei-me no não-parnasianismo. Amores metrificados não me satisfazem. Coisas lineares me enlouquecem. Afaste esse soneto de mim! Quero viver nesse teu vermelho.Solte minha mão - quero versos brancos! Não me afogarei em fantasmas. Retire as reticências - sou apenas uma puta sem fantasias. Perdi todas as palavras sobre ti - eu repito como mantra essa velha história. Mas dizem que é com amores não realizados que fazem bons poetas. Tolice, não há poesia nenhuma em nós. Sucessões de não-realizações. Mas continua "inevitável: o cheiro de amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino de amores contrariados",