terça-feira, 8 de dezembro de 2015

não-afeto.

Afeto, entrega, capacidade de se deixar afetar por algo, alguém. Há feto no afeto? Antes dessa palavra existir o que diria os romanos de César, o grande, para o amor no afeto? Feito animal recém parido nunca fui boa com afetos. Inabilidosa desde o berço, alguém, pelo simples entender das mãos me fazia chorar. Escrevo para você me entender. Para entender a minha não entrega genuína. Ao mero sinal de carinho sempre acuei, tremi, vacilei, fugi. Me dói no orgânico e real de mim. Um cachorro recém parido implora mudo o não-afeto enquanto nós, na inocência vulgar de humanos, o pegamos. Já observou um cachorro ainda envolto por sua placenta? O olhos não se abrem de imediato. Há tempo, intervalo, preparação. Há medo. Um isolamento natural e necessário - tristeza não é necessariamente ruim. A entrada de luz nas pupilas virgens pela primeira vez, o sentir do vento no corpo até então imaculado. A derradeira do fim do silêncio. A ameaça cruel e violenta do afeto. Iminência da necessidade de viver. Me desculpa se eu não consigo deixar meus olhos repousar sem culpa na janela de um ônibus, se minha mente é sempre assim - um eterno pesar. Escrever é o único modo de descobri de despir os fatos e sensações, tiro as roupas peça por peça, calma e doloramente. Eternalizo-os no silêncio mumificante da folha branco virginal. Todo dia é meu parto e arco com as consequências.

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