domingo, 21 de fevereiro de 2016

O amor, Maria?

O amor, dona moça, é coisa danada. É das insignificâncias mais bonitas da vida- digo insignificância porque o amor, quando é, é leve feito pássaro avoando efeitando céu. O amor é o barquinho na voz de Nara. É coisa que faz cócegas por dentro, aquece a barriga como chocolate quente no inverno. Danado de bonito, essa coisa de amor. Não é sempre doce, te aviso Maria. Tem dias que por dengo é mais vermelho do que merecia ser. Nem sei se o amor é vermelho, ele tem tanta cara de ser cor clara. Acho que o amor tem cor de algodão doce vendido na rua, aos domingos. Às vezes, o amor atravessa a gente, feito cavalo solto e você não consegue domar. Não adianta, essa coisa meio que vem pra gente não ter o controle.

Ah, o amor é tanta coisa, Maria. Se for uma menina de sorte, vai sentir. Os joelhos frouxos, o nózinho na garganta, o sorriso bobo brotando de cantinho. O amor primeiro nasce na boca, Maria. E não através dos beijos, mas dos sorrisos que ele traz junto. Depois vai pros olhos, ah, esses olhos tão grandes de coruja que tem ficarão com o mundo dentro deles.Você vai sentir medo, tentar fugir, ignorar. Mas o amor é feito samba, o batuque, que começa lá dentro, primeiro é pequeno e quando se vê já se derramou por você. É feito planta também, é difícil viver o amor se não for no coletivo. É as histórias de Zezinho, o banho de mangueira no verão. O amor é uma morada, uma paz de colo,  o sereno jeito do tempo desatar. O amor é dar as chaves. Ah, pequena, não feche suas portas para o amor. Eu sei, às vezes, o amor é ingrato - nestes dias, você vai chorar, se culpar por ter mantido o tantinho de esperança de amor dentro de você. Ele é bonito mesmo nestes dias, é a prova dos nove de que você, pequena, ainda vive. Então, se deixe viver o amor em sua completude de risos e lágrimas. Maria, o amor tem gosto de jujuba, de sorvete em dia bem quente, de colo de mãe pra pegar no sono.

O amor é tão bonitinho, Maria. Ele bagunça os cabelos, conta os cílios, mede as mãos, entrelaça-as em sonhos bobos. É bobalhão feito Dom Quixote. Amor é desapego, se jogar sem pensar. Ah, mocinha, você já quer dormir, né? Amanhã conversamos mais, vou deixar escrito aqui, ó, A-M-O-R. Até no papel ele fica bonito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário